EXPECTATIVAS PARA 2026: O SETOR MOVELEIRO DIANTE DE UM MUNDO QUE MUDOU
*Por Ivo Cansan
Postado quinta-feira 11/12/2025 por Redação
Categorias: Artigo Capa Setor Moveleiro
O ano de 2026 chega em um momento em que o mundo inteiro tenta reorganizar seus valores e suas prioridades, enquanto o Brasil atravessa mais um ciclo político conturbado, com impostos crescentes, produtividade comprometida e um consumidor cada vez mais pressionado. O setor moveleiro entra nesse ano com desafios antigos acumulados e novos obstáculos no horizonte. E não é o mundo que ficou ainda mais difícil; somos nós que demoramos para entender o ritmo frenético do mundo hiperconectado.
Ao observar nossos polos moveleiros, a diferença com os centros internacionais não está apenas na tecnologia, mas principalmente na mentalidade. Nos países desenvolvidos, os setores operam como organismos coletivos, alinhando estratégia, informação e inovação. Aqui, seguimos como ilhas isoladas, cada uma lutando para sobreviver por conta própria. Isso cria um atraso estrutural que pesa na competitividade brasileira. Temos ótimos empreendedores, mas não temos união. Temos produção, mas não temos visão integrada de futuro. E sem estratégia coletiva, ninguém avança. A China não nos vence porque fabrica mais barato; vence porque fabrica aquilo que o consumidor deseja antes mesmo de ele pedir, com muita tecnologia embarcada e criatividade infinita.
Outro sintoma dessa desconexão interna é que o Brasil tem “exportado” designers, mas não produtos. Temos criadores premiados e requisitados no exterior, mas nossa indústria raramente lhes dá liberdade, fidelidade ou transparência. Faltou parceria, faltou escuta e faltou visão. Essa distância entre as fábricas e os designers custa caro na percepção global do setor. E o tempo perdido não retroage.
Tudo isso é agravado pela ausência de informações consolidadas, confiáveis e integrais. Sem dados, não existe planejamento. E sem planejamento, qualquer estratégia vira aposta. Entraremos em 2026 com um nível de incerteza que exige maturidade empresarial, gestão séria e decisões baseadas em números — não em achismos.
O cenário econômico amplia essa pressão. Os juros continuam altos, e afetam duas frentes: encarece o capital de giro das empresas e reduz drasticamente o poder de compra das famílias. Com crédito caro, o consumidor posterga a troca de móveis, prioriza necessidades básicas e evita financiamentos longos. O varejo sente a desaceleração e repassa essa queda para toda a cadeia. E quando a demanda cai, a indústria inteira sofre.
A isso se soma a discussão sobre o split payment, cuja implementação efetiva está prevista para 2027, após um ano de testes e estudos operacionais em 2026 destinados a dimensionar a arrecadação e a definição do percentual do novo IBS/IVA. Em 2026 o Governo pretende validar modelos operacionais — inclusive com alíquotas simbólicas em passos iniciais — e avaliar o impacto sobre os sistemas de pagamento e a arrecadação, antes de avançar para fases obrigatórias. Ainda assim, o setor produtivo já tem, na prática, um horizonte próximo para se adaptar: industriais e empresários dispõem de aproximadamente um ano-base para estruturar processos, atualizar sistemas e revisar controles antes do início do processo de implantação em 2027; vale lembrar, porém, que a aplicação será gradual e poderá começar de forma facultativa em determinados segmentos (principalmente B2B). Pelo modelo previsto, o recolhimento automático separará o tributo no momento da transação, o que reduz o montante disponível para giro imediato e encurta o tempo de caixa — efeito que exigirá maior disciplina financeira, sistemas integrados e uma gestão fiscal-tributária mais profissional.
Se somarmos isso a um ano com menos dias úteis — por causa de eleições, Copa do Mundo e feriados — teremos um 2026 naturalmente mais caro e menos produtivo. E, como sempre, a conta final recai sobre o consumidor. Não é à toa que repito: o empresário é um transferidor de renda. Quem paga é o consumidor. A indústria recolhe, o governo arrecada e o cidadão paga a fatura.
Outro fator que não pode ser ignorado é o aumento previsto na energia elétrica. A decisão política de oferecer luz gratuita a determinados grupos pode até garantir manchetes positivas, mas não altera a matemática: essa conta será redistribuída, e o setor produtivo pagará mais. É mais um custo inevitável que afeta a competitividade da indústria nacional e num efeito cascata, diminui o poder de compra da população economicamente ativa, de modo geral.
Mas talvez o aspecto mais profundo de tudo isso não seja econômico, e sim cultural. Vivemos um período de inversão de valores, promessas fáceis, ilusões vendidas como estratégia e uma moralidade cada vez mais flexível. E o mercado, ao contrário da política, não perdoa. 2026 será implacável com quem vive de narrativa e não de resultado.
E diante dessa realidade, a mesma pergunta permanece sem resposta: qual empresa moveleira brasileira, nos últimos dez anos, automatizou seus processos de forma estruturada para, só então, justificar a robotização? Robotizar não é comprar um robô; é preparar engenharia, layout, operacionalidade, cultura e processos. A maioria investiu em máquinas isoladas, automações fragmentadas e modernizações estéticas. Isso não constrói competitividade global.
Com tudo isso, posso afirmar que 2026 será um ano de seleção natural. Quem entender o mundo como ele é — e não como gostaria que fosse — terá a oportunidade de dar um salto. Quem investir em inovação real, em design, fortalecer marca através de comunicação e marketing, trabalhar com dados setoriais e econômicos, buscar união entre polos, profissionalizar gestão e abandonar velhos vícios sobreviverá e crescerá. O setor moveleiro brasileiro tem potencial, um design evolutivo, criatividade e força. O que falta — e será indispensável neste novo ciclo — é coragem. Coragem para enfrentar a verdade, mudar o que precisa ser mudado e abandonar ilusões. Porque no mundo que estamos vivendo, não vence quem fabrica mais móveis. Vence quem entrega significado, consistência e atende as necessidades, os desejos em design e funcionalidade. E é isso que definirá quem prosperará em 2026.
By Ivo Cansan
Foto: Divulgação e Freepik
Somos o Grupo Multimídia, editora e agência de publicidade especializada em conteúdos da cadeia produtiva da madeira e móveis, desde 1998. Informações, artigos e conteúdos de empresas e entidades não exprimem nossa opinião. Envie informações, fotos, vídeos, novidades, lançamentos, denúncias e reclamações para nossa equipe através do e-mail redacao@grupomultimidia.com.br. Se preferir, entre em contato pelo whats app (11) 9 9511.5824 ou (41) 3235.5015.
Conheça nossos portais, revistas e eventos!